T2/FLAIR mismatch em tumores cerebrais astrocitomas (IDH mutante, sem codeleção 1p19q).

01/04/2024 12:00

É particularmente útil para distinguir um astrocitoma de um oligodendroglioma que geralmente não demonstra "T2/FLAIR mismatch".

O achado de "T2/FLAIR mismatch" tem alta especificidade para os astrocitomas (IDH mutante, sem codeleção 1p19q).

 

Nas margens do tumor, observa-se normalmente um contorno de hipersinal.  

É importante salientar que esse halo de hipersinal também pode ser observado no tumores neuroepiteliais desembrioplásticos (DNET), sendo um importante diagnóstico diferencial para tumores menores.

O que é o IDH?

A isocitrato desidrogenase (IDH) é uma enzima que desempenha um papel no metabolismo intermediário, especialmente no ciclo do ácido cítrico. Existem dois genes que codificam as isoformas IDH no corpo humano, conhecidos como IDH1 e IDH2. Mutação nesses genes pode levar a alterações no funcionamento normal da enzima, o que foi observado em vários tipos de câncer, incluindo gliomas, um tipo de tumor cerebral.

IDH Mutante:
A mutação IDH resulta em uma versão alterada da enzima que possui uma atividade enzimática anormal. Especificamente, essa versão mutante da enzima converte o α-cetoglutarato em 2-hidroxiglutarato (2HG), um metabolito oncometabólito que pode contribuir para a oncogênese, a formação de tumores. Nos gliomas, a presença de mutações IDH é geralmente considerada um marcador prognóstico favorável. Pacientes com tumores que possuem a mutação IDH frequentemente têm um prognóstico melhor e respondem mais positivamente ao tratamento quando comparados aos tumores sem a mutação. Além disso, a presença de mutações IDH é usada para classificar os gliomas em diferentes subtipos na classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para tumores do sistema nervoso central.

IDH Selvagem:
Tumores com IDH selvagem não possuem a mutação IDH e, portanto, mantêm a função enzimática normal. Nos contextos dos gliomas, a classificação de um tumor como IDH selvagem implica um prognóstico geralmente mais pobre comparado aos tumores com IDH mutante. Tumores IDH selvagem podem exibir um comportamento mais agressivo e uma resposta menos favorável ao tratamento. Essa distinção é especialmente importante no diagnóstico e planejamento do tratamento dos gliomas, sendo um fator chave na determinação da abordagem terapêutica.

A diferença entre IDH mutante e selvagem não é apenas uma característica molecular dos tumores; ela tem implicações significativas para o prognóstico, planejamento do tratamento e classificação dos tumores cerebrais, particularmente gliomas.

Codeleção 1p19q

A codeleção 1p19q refere-se à perda conjunta dos braços curto do cromossomo 1 (1p) e longo do cromossomo 19 (19q). Este marcador genético é importante para prever a resposta ao tratamento e a sobrevida em pacientes com gliomas difusos, especialmente naqueles com componentes oligodendrogliais. A codeleção 1p19q é crucial para o diagnóstico de oligodendroglioma, indicando um melhor prognóstico quando combinada com mutação IDH.

A ausência da codeleção 1p19q em gliomas, particularmente quando associada a uma mutação IDH, geralmente indica um diagnóstico de astrocytoma. Em contraste com os oligodendrogliomas, que frequentemente apresentam a codeleção 1p19q e têm um prognóstico melhor, os astrocitomas sem esta codeleção podem responder de forma diferente ao tratamento e geralmente têm um prognóstico diferente. Portanto, o status da codeleção 1p19q é um fator importante na classificação dos gliomas, influenciando o prognóstico e a estratégia de tratamento.

Metilação do MGMT

A Metilação do promotor MGMT é considerada um marcador prognóstico em gliomas. Este processo epigenético inativa o gene MGMT (O6-metilguanina-DNA metiltransferase), que é responsável pela reparação de danos no DNA causados por agentes alquilantes, como a temozolomida, usada na quimioterapia. Quando o promotor MGMT está metilado, a produção da proteína MGMT é suprimida, impedindo a reparação do DNA danificado pela quimioterapia, o que resulta em maior sensibilidade do tumor ao tratamento. Pacientes com gliomas que possuem metilação do promotor MGMT geralmente têm um melhor prognóstico, com respostas mais positivas à quimioterapia e uma sobrevida mais longa.

Resumo:

O sinal de mismatch T2/FLAIR é caracterizado por uma discrepância entre as imagens T2 e FLAIR, onde a lesão aparece hiperintensa em T2 e isointensa ou ligeiramente hiperintensa em FLAIR. Este sinal é considerado sugestivo de uma mutação no gene IDH (isocitrato desidrogenase), que é comum em gliomas de baixo grau. A mutação IDH é um evento precoce na oncogênese de certos tipos de gliomas e está associada a um melhor prognóstico e resposta ao tratamento.

Além disso, a menção à "codeleção 1p/19q ausente" é relevante porque a codeleção 1p/19q é um marcador de prognóstico e terapêutico em oligodendrogliomas, um subtipo de glioma. A presença dessa codeleção é associada a uma resposta melhor à quimioterapia e à radioterapia. Contudo, no contexto do sinal de "mismatch T2/FLAIR", geralmente se observa a ausência dessa codeleção, o que é típico para gliomas que não são oligodendrogliomas.

A relevância clínica deste achado reside na importância do reconhecimento desse sinal de imagem para orientar o diagnóstico diferencial de gliomas, além de sugerir características moleculares específicas que têm implicações diretas no manejo e prognóstico do paciente.

Referências:

1. Deguchi, S., Oishi, T., Mitsuya, K. et al. Clinicopathological analysis of T2-FLAIR mismatch sign in lower-grade gliomas. Sci Rep 10, 10113 (2020). https://doi.org/10.1038/s41598-020-67244-7