Se você pretende melhorar sua comunicação, você precisa ouvir

01/12/2021 16:20

Você já parou para ouvir hoje? Isso mesmo: ouvir. Qualquer que seja o aspecto da sua vida, o ato de ouvir pode dar-lhe a sensação de que sabe mais ao deitar, do que quando levantou-se da cama. 

Não diferente de outras áreas, o profissional de saúde precisa, além das suas faculdades, aplicar a empatia e a comunicação como ferramentas primordiais para aprimorar-se. Em um único dia, o profissional de saúde lida com pessoas de diferentes níveis educacionais, culturais, sociais…histórias de vida confrontadas a episódios difíceis, e que precisam serem acompanhadas por profissionais “humanos”. Maneiras e ferramentas para isso não faltam. 

Segundo a Ordem dos Médicos do Reino Unido, aproximadamente 1 em cada 3 pacientes relatam que uma comunicação pobre teria afetado os seus respectivos tratamentos. Isso é muito! A primeira maneira de reverter isso é ter uma comunicação simples, direta, que pode até ser rápida, mas jamais pode haver espaço para adivinhação ou dúvidas. E o primeiro passo para evitar isso é ativar o modo escuta. Sim, quando você escuta o paciente de maneira ativa, você conecta-se com suas necessidades, medos, frustrações e até outros elementos que possam indicar alívio, ou depressão. É preciso ouvir mais e falar menos. Ouvir sem interromper é poderoso. Ser curioso sobre o outro nunca foi tão valioso. Denota interesse, respeito a um outro ponto de vista. Manter o contato visual pode oferecer encorajamento, empoderamento e mostrar ao paciente que “Eu entendo o que passa com você, pode prosseguir…”. Ao colocar perguntas abertas para o paciente (Onde? Como? Por que? Quando?), você tem a possibilidade de analisar a sua linguagem corporal, além de coletar informações preciosas para a continuidade dessa relação. Você adapta sua informação e comunicação ao paciente. Sim, ouvir faz parte do tratamento. E engana-se quem pensa que isso é papel apenas de assistentes sociais ou de psicólogo. Ser cuidadoso e não interromper o paciente pode ser muito valioso. 

Entretanto, essa máxima não vale somente para com pacientes. Como a maioria dos profissionais de saúde trabalha em equipe, ouvir o seu “staff” tem se revelado uma oportunidade única. Em tempos de pandemia e de trabalho remoto, escutar a sua equipe é importante para aproximar as pessoas (distanciadas por causa do contexto sanitário), melhorar o ambiente interno, bem como a percepção e a relação da equipe com os pacientes. É nesse exercício que surgem as oportunidades de expressar preocupações, necessidades e ambições. Além disso, trata-se de uma inestimável oportunidade para compartilhar o que pacientes relatam sobre o trabalho da equipe. São os membros da equipe que estão em contato estreito com os pacientes que podem trazer pontos a melhorar no cotidiano. Mais uma vez: ouvir. Ouvir o membro da equipe, que ouve o paciente. Se a sua equipe tem pouco tempo durante a semana, use esses 10 raríssimos minutos para tirar proveito dessa oportunidade. Quando um membro da equipe sente que não é ouvido, a comunicação é interrompida. E, com frequência, as consequências não são as melhores. 

 Além das maneiras que podem melhorar a comunicação, o profissional de saúde dispõe também de ferramentas preciosas para sublimar a transmissão das suas informações. Profissionais de saúde nos Estados Unidos, que não são muito adeptos da troca de informações via e-mail, têm criado aplicativos para comunicação interna da equipe. Assim, tudo está ali, no seu celular. Informações sobre escala de trabalho da equipe, orientações sobre pacientes no momento da troca de turno, queixas, elogios… A comunicação dentro da equipe de saúde torna-se horizontal, sem tabus, uma verdadeira troca entre pares. 

 Aqui no Brasil, uma iniciativa tem ajudado profissionais de saúde a criarem seus sites de maneira mais inclusiva. Recentemente, conversei com Simone Freire, idealizadora do Movimento Web Para Todos. Simone me apresentou dados que me assustaram. Dos 14 milhões de sites brasileiros ativos, menos de 1% está preparado para navegação de pessoas com algum tipo de deficiência severa. Além disso, apenas 4 dos 2 mil aplicativos brasileiros mais baixados estão acessíveis para o público deficiente. Ora, eis aqui uma oportunidade e tanto para profissionais de saúde: criar sites ou aplicativos do seu consultório, da sua clínica ou do seu hospital acessíveis para todos. Além disso, adaptar uma página à navegação para deficientes (não somente visuais ou auditivos) pode revelar-se uma oportunidade de negócio imensa, já que falamos de mais de 45 milhões de pessoas, somente no Brasil. É um público que precisa, que reivindica, que consome, que indica. 

Cursos e seminários não são o suficiente para o progresso de um profissional. O fato de questionar-se sempre também é fator de aprimoramento. Na França, onde moro, certos médicos, enfermeiros e farmacêuticos gravam (com o consentimento do paciente) algumas consultas. Assim, eles podem assistir e testemunhar como trabalham. É como se o profissional se perguntasse: “Como é ser um paciente meu?”. 

Questionar-se nunca é demais. Até porque, como ninguém detém o monopólio do saber, compartilhar informações é mais do que apenas uma ferramenta de organização. Profissionais de saúde têm cada vez mais experimentado enviar vídeos e áudios das consultas para os parentes mais próximos do paciente. Além de demonstrar atenção e ajudar famílias e amigos que não estiveram presentes no momento de uma consulta, isso encoraja o profissional a sempre elevar o nível do seu trabalho. 

Em tempos de fake news, a sociedade mostra-se cada vez mais carente de discernimento sobre suas fontes de informação. O Brasil, país com uma das maiores penetrações de público digital do mundo, tem sofrido com aquelas correntes enviadas por mensagens ou redes sociais. Assim, a presença de profissionais de saúde em lives no Instagram/Facebook ou YouTube tem se mostrado uma gota de esperança em meio a tanto desalento. Exemplo: o divulgador científico Atila Iamarino, que conta com mais de um milhão de seguidores no YouTube. Divulgar conhecimento da sua área, via essas ferramentas, ajuda a sociedade a separar o joio do trigo. E para nós, jornalistas, constitui uma fonte inestimável de busca de novas fontes, fora dos principais eixos econômicos do país. 

Fale, escreva livros, aceite convite para debates em rádios e podcasts. O principal é transmitir uma informação clara, concisa e direta, dentro da sua especialidade. Sem contar que, ao fazer lives e vídeos explicativos, o profissional de saúde abre portas para ser convidado por outros jornalistas, que por sua vez divulgam os seus trabalhos, contribuindo assim para alimentar uma rede de informação séria, principalmente em tempos de pandemia, de negacionismo e de recurso a respostas fáceis para questões complexas. 

Sim, ouvir é sempre importante para todos. E aprender nunca deve ser fácil e prazeroso somente para poucos. 

 

Por Danilo Rocha Lima 

Jornalista - Cofundador da plataforma de jornalismo independente Headline